Eu era um combatente de causas meritórias Meu verbo inteligente floria em oratórias Eu era mais austero que monge ou faquir Eu odiava veludo eu não sabia rir Um dia tu chegaste vinda dos lugares Onde brilha o podernas gemas dos colares Olhando como quem não vê quem mais ali passasse E logo ali fiz de ti uma inimiga de classe Uma inimiga de classe Depois de um volte-face dos que só há em novela Perdi toda a firmeza quase virei cinderela E num instante de glória foste princesa que olhou Ao materialismo da história o amor se adiantou Comi na tua mesa bebendo teus movimentos E como um escanção provei-te em tragos lentos Analisei com cuidado o fundo do teu coração E depois de analisado não vi sinal de exploração Uma inimiga de classe Toda essa bastilha que eu tinha em mim inflamada Tremeu de maravilha abriu mesmo pela fachada Tu mudaste a minha vida em cento e oitenta graus Torceste-me as raízes por ti juntei-me aos maus Agora não sei quem sou não sei mais o que fazer Sei que me aburguesaste com o teu savoir-faire Sentado nos teus sofás de criador afamado Eu canto os amanhãs e não me sinto culpado