É mais fácil cultuar os mortos que os vivos Mais fácil viver de sombras que de sóis É mais fácil mimeografar o passado Que imprimir o futuro Não quero ser triste Como o poeta que envelhece lendo Maiakóvski Na loja de conveniência Não quero ser alegre Como o cão que sai a passear Com o seu dono alegre Sob o sol de domingo Nem quero ser estanque Como quem constrói estradas E não anda Quero no escuro Como o cego tatear estrelas distraídas Quero no escuro Como o cego tatear estrelas distraídas Amoras silvestres No passeio público Amores secretos Debaixo dos guarda-chuvas Tempestades que não param Pará-raios quem não tem Mesmo que não venha o trem Não posso parar Tempestades que não param Pará-raios quem não tem Mesmo que não venha o trem Não posso parar Vejo o mundo passar Como passa uma escola de samba que atravessa Pergunto: onde estão teus tamborins? Pergunto: onde estão teus tamborins? Sentado na porta de minha casa A mesma e única casa A casa onde eu Sempre morei A casa onde eu Sempre morei A casa onde eu Sempre morei